A Mulher Eterna
"Maria não se levanta em seus dogmas para defender a sua própria causa, mas para defender a de seu Filho. As minúcias psicológicas da sua figura humana e temporal não são acessíveis nem à crítica histórica, nem às construções intelectuais, nem mesmo ao amor mais terno. Acham-se veladas no segredos de Deus, para só aí encontrarem sua verdade religiosa: pois o véu é, neste mundo, o símbolo do metafísico. E também o da feminilidade: todas as grandes circunstâncias da vida feminina nos mostram a figura da mulher sob um véu. Esse véu ajuda a compreender porque não é o homem e sim a mulher que prepara o mundo à introdução dos grandes mistérios do cristianismo. (...) (...) O símbolo do véu atribui à mulher, antes de tudo, o invisível: amor, bondade, piedade, solicitude, proteção, todos os valores cuja substância se acha realmente escondida do mundo e, na maior parte do tempo, traída. Outrossim, as épocas em que as mulheres são afastadas da vida pública não são épocas que eliminam sua significação metafísica; são talvez ao contrário essas épocas que, sem se dar conta, lançam o peso enorme da feminilidade na balança do mundo.
Em todo o dom de si, brilha no raio do Mistério da Mulher Eterna. Mas esse raio se extingue quando a mulher procura a si própria. Ao subliminar seus traços pessoais, a mulher destrói sua figura eterna. A procura de si mesma se acha na raiz do pecado da mulher, na raiz do pecado de Eva. Para dar a natureza exata nesse pecado, não basta opor sentimentos do espírito. A queda da mulher não é a criatura que se rebaixa até o mundo é a criatura que se abaixa até o mundo, pois que a essência do mundo criado, bem como a essência da mulher, são da mesma humilde disponibilidade."
Gertrud Von Le Fort, A Mulher Eterna.
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